Nada mais do que um “tchau” para a mãe porque um beijo de despedia à porta da escola pode pôr em causa todo o esforço que o adolescente está a empreender para entrar num grupo. Assim se traduz a necessidade de pertença que, mais do que rebeldia, pode gerar revolta durante o rito de passagem contra… o bode expiatório que é a família!
Artigo de Opinião pelo Professor Luís Horta, publicado no Jornal Postal a 03-11-2022
A necessidade de pertença
Não importa que idade tem, o ser humano precisa sempre de pertencer a um grupo social para se sentir feliz. Aliás, foi essa necessidade de pertença que lhe permitiu criar alianças para superar as adversidades ao longo do tempo.
Porém, se a sensação de pertença traz muitos benefícios (como o aumento da autoestima e bem-estar), o isolamento, por seu turno, traz infelicidade, muitas vezes traduzida em comportamentos de risco e até surgimento de doenças. E quando falamos de isolamento na adolescência, pior ainda porque a necessidade de pertença nestas idades é mais acentuada, inclusive porque os jovens precisam de um grupo para transitarem facilmente para a vida adulta… nem que esse grupo lhes dê experiências sociais negativas! Quando começa esta fase? Grosso modo, assim que trocam os ambientes de convivência da família pelo quarto…
A rebeldia dos adolescentes
“Estás a ouvir?”, pergunta a mãe. E o jovem adolescente nem responde porque efetivamente não está a ouvir. Anda distraído? Não necessariamente, está é programado para dar menos importância à voz dos pais e mais importância às vozes fora de casa. É por isso que os pais, na tentativa de mostrar empatia para lidar com o chamado mau humor dos filhos adolescentes, lá vão responsabilizando a fase de rebeldia que apelidam de “idade do armário”. Uma coisa de costas largas muito genérica, não é verdade?
Ainda assim, gosto de acreditar que os adolescentes, na sua maioria, não são rebeldes. Pelo contrário, não passam de ovelhas num rebanho que, na tentativa de serem aceites pelos seus pares, fazem um pouco de tudo para mostrarem… como são porreiros! E é isso que leva à chamada rebeldia (um pouco teatral, diga-se de passagem) contra pais e professores, contra todos os que estão e estarão sempre do seu lado. Claro que nós adultos, que já passámos por esta idade, não abdicamos das complacências do paternalismo. Sabemos que somos pais e não amigos, ao contrário da grupeta que muitas vezes os recebe com desdém e autoridade.
A primeira experiência com o poder
Será esta a primeira experiência com o poder dos adolescentes, a primeira necessidade de saírem da esfera doméstica para se juntarem aos mais fortes, cedendo a uma série de provações com todo o prazer. Na verdade, e aqui entre nós que ninguém nos ouve, o método não é assim tão difícil de explicar, muito menos de seguir: basta imitar! Adotar as atitudes e comportamentos dos seus pares, que podem passar pela forma de vestir, pela linguagem, pelos gestos, música que ouvem, atividades extracurriculares… Vale tudo para evitarem o isolamento, pelo que um beijo de despedida dado à mãe à porta da escola pode deitar a perder estes hércules esforços, e um “obrigado, Professor” no final da aula, expô-los-ia ao ridículo.
A dificuldade em entrar no grupo
Faltar às aulas, consumir drogas ou roubar? Sim, também não podemos ignorar que na pior das hipóteses, para entrarem num grupo, os adolescentes podem sofrer estas e outras influências negativas, quando as normas do grupo vão contra os seus valores e/ou práticas parentais. Mas centremo-nos no rito de passagem que implica um saudável grau de conformismo para com as normas do grupo. Que acontece? Na tentativa de ingressar no grupo (e atenção que não falo do grupo de jovens da igreja, mas do grupo de pares na escola ou bairro), o jovem acaba por depositar nesse ritual de imitação toda a sua energia e passar até por algumas humilhações que geram revolta. Contra quem? Ora, adivinhe lá quem vai ser o bode expiatório? A família, claro! Se o adolescente fracassa no seu rito de passagem não se vira contra aqueles que não o aceitaram como homem, mas contra aqueles que o aceitam como criança e tudo lhe desculpam. Como dizia Olavo de Carvalho, numa frase que resume a famosa rebeldia do adolescente: “amor pelo mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama”.
Posto isto, enquanto os adolescentes crescem, cabe aos pais e educadores um papel delicado que é manter o equilíbrio entre os limites e o espaço para novas experiências (que inclusive possam trazer sentimentos de perda e deceção). De igual modo, ao grupo de pares cabe outro papel importante: mais do que fonte de pressão, funcionar como fonte de apoio emocional num período complexo e de transição como é a adolescência.
A escola inclusiva
Não obstante a educação estar mais inclusiva e acessível a todos, respeitando as diferenças entre alunos e promovendo a convivência de forma igualitária, a escola deve continuar a assumir um papel fundamental na socialização presencial. Um desafio nos tempos que correm, já que os adolescentes passam horas a fio de smartphone na mão, expostos a (…)
(…) Ler em Postal.PT