No passado dia 23 de abril assinalou-se o Dia Nacional da Educação de Surdos e da Juventude Surda, um data que possivelmente a vocês nada faz aludir mas que, para nós, Comunidade Surda, é muito especial. E por que motivo? Bem, por causa de dois acontecimentos muito marcantes na nossa História mas que por coincidência aconteceram na mesma altura! Querem saber o que aconteceu de tão importante? Sigam-nos nesta breve explicação!
Primeiro acontecimento, a criação do primeiro Instituto para Surdos em Portugal, o Instituto de Surdos-Mudos e Cegos, fundado a 20 de abril de 1823, pelo nosso rei D. João VI, a pedido da sua filha, a infanta D. Isabel Maria. O especialista sueco Per Aron Borg, então fundador e diretor do Instituto de Estocolmo, na Suécia, foi chamado pelo rei para criar o referido Instituto. Foi neste momento que se iniciou a Educação de Surdos, em Portugal. Os primeiros alunos Surdos a integrar uma turma neste instituto eram oriundos da Casa Pia de Lisboa: 4 rapazes e 8 raparigas, com idades entre os seis e os catorze anos. Todos os alunos eram Surdos, com exceção de um menino que era apenas cego. Interessante, não é?
Par Aron Borg – Primeiro professor de Surdos
Primeira Escola de Surdos – Palácio da Mesquitela
Segundo acontecimento, ocorrido muitos anos mais tarde, a 23 de abril de 1996, na Escola Secundária José Gomes Ferreira, mais conhecida em Lisboa como a Escola Secundária de Benfica. Nesta data muito especial, um grupo de jovens alunos Surdos, então liderado pelo Presidente do Centro de Jovens Surdos, Amílcar Morais, organizou um encontro com o objetivo de debaterem a sua realidade escolar e de defender o seu futuro, fosse para seguir para uma vida académica, fosse para uma imediata integração no mercado de trabalho, algo que até essa altura os seus professores diziam ser impossível, afirmando que não tinham competências para serem integrados na sociedade ouvinte. Conquistaram o seu pleno direito de decisão sobre o seu futuro! Foram corajosos, não foram?
Amílcar José Morais
E por esses motivos, anualmente, comemoramos o Dia Nacional da Educação de Surdos e da Juventude Surda!
No nosso agrupamento comemorámos a data de diferentes formas! Todas as atividades realizadas foram excelentes e estão de parabéns. Nós, no dia 24 de abril, sábado, realizámos mais uma: um webinar, em direto pelo Facebook! Algo diferente do que costumamos fazer mas que, por causa da época que estamos a atravessar em que não nos é permitido ajuntamentos, foi essencial!
Com a nossa aluna Bruna Saraiva, do 11º C, como moderadora, numa proposta efetuada por mim, a docente de LGP, no âmbito da planificação anual da disciplina, muitos foram os oradores e todos os envolvidos deram o seu testemunho sobre a Educação de Surdos, incentivando à reflexão dos temas.
A nossa Juventude Surda também teve direito a opinar, mostrando as barreiras que enfrentam diariamente. Foram discutidos diversos temas e problemáticas ligadas à Educação Bilingue. Ao longo do dia, os espectadores foram imensos tendo as visualizações do evento chegado aos milhares!
Queremos ainda deixar um agradecimento especial a todos os que nos acompanharam ao longo deste dia com especial destaque para o professor Humberto Viegas e a professora Cláudia Sousa, por aceitarem participar neste evento, mostrando como é efetuado o trabalho com os alunos Surdos na nossa escola. Igualmente um especial agradecimento aos intérpretes de LGP que nos acompanharam, especialmente à nossa Ema Marques.
Por último deixamos aqui uma foto com os gestos de Educação e de Surdo! De facto é importante lutar pela nossa Língua, a Língua Gestual Portuguesa, ela é a ponte que nos pode unir a todos nós, cidadãos.
Esperamos que em breve possam participar em mais atividades com alegria nos vossos corações e nunca esquecendo que todos podemos ser maiores na Vida! Basta relembrar que desistir não é uma opção para o nosso dicionário. É importante que derrubemos os nossos medos e que floresça coragem e persistência, seguindo o exemplo dos nossos corajosos jovens Surdos acima mencionados. Um beijo gestual para cada um de vós.
Catarina Marques
Docente de Língua Gestual Portuguesa