Porque haveria um jovem licenciado de preferir ouvir “olá stor!” logo pela manhã quando pode ficar sossegado no escritório, agarrado ao teclado do computador, olhos fixos no ecrã e bolsos bem mais recheados? É isso que lhe vou tentar explicar neste artigo em espécie de alerta vermelho para a instabilidade!
Artigo de Opinião pelo Professor Luís Horta, publicado no Jornal Postal a 18-05-2022
Entre aposentações, desistências e decréscimos de alunos nos cursos superiores de educação, Portugal está a enfrentar uma crise de falta de professores… sem fim à vista! Neste momento, cerca de 30.000 alunos permanecem sem todos os professores atribuídos e nos próximos anos, dezenas de milhares de docentes contam sair do sistema de ensino, seja porque vão desistir da carreira ou render-se à reforma. E até aqui tudo bem, desde que a percentagem de licenciados nos cursos de educação fosse satisfatória. Mas acontece precisamente o contrário! De há 20 anos a esta parte, caiu 70% e só na última década, registou um decréscimo – de 8,6% em 2011 para 5% em 2020 – colocando Portugal abaixo da média da OCDE e da União Europeia.
Uma classe envelhecida…
De acordo com o relatório “Estado da Educação de 2020”, que retrata o sistema educativo português no ano letivo de 2019/2020, mais de metade dos professores do pré-escolar ao secundário já soprou 50 velas de uma só vez. Resultado? Nos próximos 7 anos, o ensino público poderá perder por aposentação, 19.479 docentes. Pior! Aos professores que se vão reformar, temos de juntar os cerca de 10.000 que vão desistir da profissão (a manter-se a tendência das duas últimas duas décadas).
Não há novos professores para os substituir?
Parece que não… Os jovens não se sentem aliciados por esta profissão, tanto que a percentagem de docentes com menos de 30 anos passou de 7,4% para 1,6% na última década. Conclusão? Num futuro próximo, Portugal vai ter poucos profissionais habilitados para o ensino.
Professores de Informática, precisam-se!
As notícias sobre o ensino da Informática em particular, não são mais animadoras. Apesar de na primeira fase de colocações para o ano letivo 2021/2022 “só” terem ficado a faltar pouco mais de 200 docentes no grupo de Informática, o número de professores é insuficiente para responder à procura. E parte dos docentes que concorrem a um horário, só têm as habilitações mínimas e não a formação necessária para lecionar a disciplina de TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) obrigatória do 5º ao 9º ano de escolaridade; as disciplinas opcionais de Informática do ensino regular; as disciplinas dos diversos cursos profissionais de Informática ou as disciplinas dos Cursos de Educação e Formação (CEF) do ensino básico.
A falta de professores de Informática é mais grave em Lisboa e no Algarve, muito devido ao valor elevado das rendas, que leva os profissionais a desistirem de trabalhar no ensino e longe de casa.
Profissão de professor de Informática (também) é desvalorizada
Sim, a profissão de professor de Informática também é desvalorizada e pouco atraente para os jovens que entendem que trabalhar numa empresa traz mais vantagens. E ninguém os pode condenar porque, efetivamente e ao fim de algum tempo, conseguem progredir e ganhar no mercado empresarial muito mais do que no ensino público. Assim, não é difícil de imaginar um jovem licenciado em Ciências da Informação, Engenharia de Informática ou Comunicações e Multimédia (entre outros cursos que dão habilitação própria para a docência), a perceber que em vez de se candidatar a um mestrado em ensino da Informática pode enviar o seu currículo para empresas e enveredar por uma solução mais eficaz e estável para garantir o seu ganha pão. Mas com essa decisão vencedora, que não morre solteira num caso em particular, leva a que outros jovens, estudantes do ensino básico e secundário, fiquem a perder. E isso porque a falta de estratégias para cativar professores de Informática acentua a falta de competências na área digital dos alunos. Apesar de terem nascido rodeados de tecnologia, o certo é que apenas 20% dos alunos portugueses com 13 e 14 anos, estão preparados para trabalhar de forma independente com computadores, de acordo com um relatório do International Computer and Information Literacy (ICILS).
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Eu sou o Luís Horta e vivo o melhor dos dois mundos! Sou professor de Informática há 27 anos (e com muito gosto!) e gerente da agência de marketing digital Webfarus que conta, na sua folha de serviço, com mais de 700 websites criados para fomentar a rentabilidade de empresas de diferentes setores de atividade.