SIM ou NÃO? Empreendedorismo e literacia financeira nas salas de aula

artigo opinião Luis Horta
Luis Horta

Num cenário em que a economia enfrenta altos e baixos e as oportunidades de carreira estão em constante evolução, o empreendedorismo e a literacia financeira nas salas de aulas, podem ser, mais do que disciplinas escolares, pilares indispensáveis na formação dos estudantes. Ainda assim, recentemente PS e BE votaram contra um projeto de resolução dos liberais para inclusão da literacia financeira no currículo escolar, tal como partidos mais à esquerda como PCP e Livre, deixando em aberto a questão: SIM ou Não?

Artigo de Opinião pelo Professor Luís Horta, publicado no Jornal Postal a 18-01-2024

Empreendedorismo jovem em Portugal: longe de atingir o seu potencial

SIM ou NÃO? Antes de desvendar a resposta, importa referir que o NÃO está a somar pontos, já que o ímpeto empreendedor dos jovens portugueses não está a atingir o seu pleno potencial. A taxa de empreendedorismo jovem situa-se nos 6,6% (Global Entrepreneurship Monitor GEM 2023) quando a média da União Europeia é de 7,5%. Além disso, existem grupos mais afetados, como é o caso dos jovens de famílias com baixos rendimentos, jovens com deficiência e jovens de minorias étnicas.

Deste modo, percebemos que em Portugal existem adeptos do NÃO que preferem um ensino tradicional que não desvie o foco das (supostas) disciplinas essenciais nem aumentem uma carga curricular que já é significativa. A par, alguns defensores do NÃO argumentam que o empreendorismo em currículo escolar pode criar desigualdades de oportunidades, já que nem todos os alunos têm acesso aos mesmos recursos (e professores) ou suporte financeiro para desenvolver os seus projetos.

Por fim, e apenas para referir alguns argumentos contra a inclusão do empreendorismo em contexto escolar, há quem acredite que o sucesso financeiro pode pôr em causa valores como responsabilidade social, ética e preocupação com o bem-estar da comunidade.

Mas o que é empreendedorismo jovem?

É uma expressão que se refere à atividade empreendedora (criar, desenvolver e gerir negócios próprios) realizada por jovens que procuram por oportunidades de inovação, assumindo os riscos e contribuindo para a dinâmica da economia.

De salientar, apenas, que o empreendedorismo jovem não costuma nascer espontaneamente. É filho de apoios do estado e recursos e incentivos por parte de professores e educadores, que inspiram e capacitam os jovens para explorar o seu potencial desde cedo. 

Literacia financeira em contexto escolar: Portugal na cauda do ranking

SIM ou NÃO? Vai ter de continuar a ler para conhecer a resposta, mas neste momento o NÃO continua à frente. E sabe porquê? Porque em 2020, Portugal ocupava a última posição do ranking de literacia financeira dos 19 países da Zona Euro. Isso significa que no nosso país, (ainda) se acredita que a literacia financeira pode desviar a atenção das habilidades tradicionais e académicas essenciais, como leitura, escrita e matemática, e pode acentuar desigualdades socioeconómicas, uma vez que os alunos com mais recursos podem ter mais oportunidades para aplicar esses conceitos na prática.

Alguns críticos acreditam também que quer o empreendorismo, quer a literacia financeira, podem sobrecarregar os professores, a nível de carga horária e formação para ensinar esses conceitos de forma eficaz.

Mas o que é literacia financeira?

Sumariamente, é a capacidade de compreender e utilizar conceitos financeiros para tomar decisões informadas e eficazes, relacionadas com o dinheiro: orçamentos, poupanças, investimentos, gestão de dívidas, taxas de juros, etc.

na prática, um jovem com boa literacia financeira será capaz de entender que as suas decisões económico-financeiras têm impacto no seu bem-estar financeiro a longo prazo e assim, gerir eficazmente as suas finanças pessoais no futuro. Nesse sentido, há quem defenda que a literacia financeira deve começar cedo, logo que a criança começa a ter a perceção do dinheiro (por exemplo, com a gestão da mesada), e há quem defenda que esta “disciplina” não deve sequer ser introduzida, porque pode inadvertidamente prejudicar alunos de famílias mais desfavorecidas, tornando-os mais conscientes das disparidades financeiras.

Resistência à cultura empreendedora: fatores que bloqueiam jovens talentos

SIM ou NÃO? Bom, neste capítulo veremos um SIM em grande vantagem, já que, não obstante os desafios sobre os quais vou falar mais adiante, Portugal tem testemunhado um aumento notável no empreendedorismo jovem, com uma geração talentosa e ambiciosa a criar startups inovadoras em diversas áreas de atuação.

Porém, é importante ressalvar as barreiras ao empreendedorismo jovem que começam, desde logo, com a dificuldades de acesso à educação e formação por parte de jovens de famílias com baixos rendimentos ou de minorias étnicas, bem como dificuldades para obter financiamentos para iniciar um negócio. Segundo uma pesquisa GEM (2022), 47% dos jovens empreendedores em Portugal enfrentam dificuldades para obter capital. A par, há uma falta de cultura empreendedora que bloqueia oportunidades num mercado que, como bem sabemos, é muito competitivo.

Por fim, a falta de coragem ou medo falhar é outro fator de inibição, ao lado da insegurança jurídica, um desafio para os jovens empreendedores, mais vulneráveis a riscos legais.

Educação empreendedora: oportunidades para a criação de novos negócios

SIM ou NÃO? Atenção que o SIM está novamente a uns pontos de distância do NÃO, já a educação empreendedora tem novas oportunidades em Portugal, com a economia globalizada, a tecnologia a facilitar a criação e o crescimento de novos negócios, com apoios do governo e escolas cada vez mais focadas em educação empreendedora.

Ao que tudo indica, os votos contra a inclusão da literacia financeira no currículo escolar, em dezembro de 2023, não tiveram eco no grande grupo de professores, educadores e alunos dispostos a explorar a inclusão do empreendorismo e literacia financeira na sala de aula. Precisamente porque se tratam de métodos de ensino eficazes que trazem muitos benefícios para os estudantes, ajudando-os a compreender os princípios financeiros básicos, a administrar as suas próprias finanças, a cultivar uma mentalidade empreendedora e também a treinar habilidades práticas para prosperar num mundo competitivo, cheio de desafios… mas também de oportunidades!

Nesse sentido, algumas escolas e alguns professores, têm usado métodos pedagógicos inovadores, com uma envolvente mais prática, inclusive com a ajuda de parcerias com empresas locais que transportam os alunos para cenários reais.

Empreendorismo e finanças nas salas de aula: como educar futuros líderes

SIM ou NÃO? O empreendedorismo jovem e a literacia financeira em currículo escolar são chaves para o sucesso, pelo que o SIM ganha este desafio!

Nas salas de aula, mais do que disciplinas, são (ou serão) um empurrão rumo ao sucesso, através do desenvolvimento de habilidades essenciais para gerir finanças pessoais, desenvolver a autonomia, tomar decisões sobre investimentos, analisar cenários económicos e identificar oportunidades de negócios. Estas competências criam alunos bem-informados, mas também futuros líderes capazes de enfrentar os problemas no mundo real do século XXI.

Os jovens são o futuro da economia portuguesa. Os mais propensos a inovar, a moldar ativamente o seu próprio destino e a criar novos empregos. Os mais capacitados para construir um amanhã próspero e sustentável. Por isso, como professor, faço questão de inspirar os estudantes do ensino secundário e superior a pensar de forma empreendedora, e como CEO da Webfarus, faço questão de usar uma empresa de marketing digital como laboratório vivo para testar estratégias empreendedoras com jovens de várias idades. E você?

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